quinta-feira, 2 de junho de 2011

O Relógio


Um advogado estacionou seu Mercedes novo em folha na frente de seu escritório, pronto para mostrá-lo aos colegas. Logo que ele abriu a porta para sair, um caminhão passou e arrancou a porta. O advogado usou imediatamente o seu telefone celular e discou 190.

Um policial chegou dentro de minutos e, antes que pusesse dizer alguma coisa, o advogado começou a gritar que a Mercedes que ele havia comprado no dia anterior estava totalmente arruinada e nunca mais seria a mesma. Por conta disso, iria processar o motorista, Deus e o mundo, ia fazer e acontecer, afinal era doutor, etc, etc.

Quando o advogado finalmente se acalmou, o policial agitou sua cabeça em desgosto e disse:

“-Eu não posso acreditar no quão materialistas vocês advogados são. Vocês são tão focados em suas posses que não notam mais nada.”

“-Como você pode dizer tal coisa? O Sr. tem noção do valor de uma Mercedes?” Pergunta o advogado.

O policial respondeu:
“- O Sr. não percebeu que perdeu seu braço esquerdo? Foi arrancado do cotovelo pra baixo quando o caminhão bateu.

“- Putaqueopariu!” - Grita o advogado. “Cadê o meu Rolex?”

No aeroporto, a fulana na minha frente fazia a porta magnética apitar o tempo todo. O funcionário já havia pedido pelo menos 2 vezes que ela retirasse todos os objetos metálicos do corpo e os depositasse na caixa ao lado. A fulana passou, então, mais uma vez pela porta magnética e, de novo, ouviu-se o apito. O funcionário passou o detector de metais portátil ao longo do corpo da dita cuja e descobriu que a causa do apito era um relógio de pulso. O funcionário pediu que a fulana depositasse o relógio na caixa ao lado.

“-Ah, não. Não vou tirar esse relógio. Ele é de ouro!”

Eu que estava esperando atrás, contando os minutos para o embarque já puto da vida, pensei: E daí? Grande merda que isso é.

Após debater com o funcionário, ela finalmente tirou a porcaria do relógio e o depositou na porcaria da caixa ao lado. Atravessou a porcaria da porta magnética - que desta vez não apitou, coletou a porcaria dos objetos que havia deixado na porcaria da caixa e foi embora, tudo em poucos segundos. Por que não fez isso logo? Porque é mais uma que perderia o braço e só se preocuparia com o relógio.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Rumo ao pôr-do-sol


Ambrose Bierce foi ao México e sumiu em meio à Guerra Civil, sem deixar qualquer vestígio. Talvez tenha se cansado da rotina e decidido ir para longe, em busca de uma reviravolta em sua vida, da aventura que o cenário de guerra sugere. Talvez quisesse voltar para casa, mas algo terrível tenha acontecido e ele tenha simplesmente encontrado por lá um fim nada heróico ou aventureiro, apenas trágico. Não há uma história oficial, ninguém sabe o que aconteceu.

Não importa o que ambrose tenha feito durante a vida, o ser-humano que tenha sido ou os amores e anseios que tenha tido (tão iguais aos seus e aos meus?). Na sua trajetória, o que atrai é o seu final: foi-se embora para o longe para nunca mais voltar... FIM.

No âmbito das vidas banais, do lugar comum das pessoas que são levadas pela doença ou se tornam decadentes com a idade, o destino intrigante de Bierce é como uma cavalgada triunfal rumo ao pôr-do-sol, ao final de algum filme de faroeste: um adeus feito com classe.



"Quanto a mim, parto daqui amanhã rumo a um destino incerto."
(Trecho final da última carta escrita por Bierce, em 26 de dezembro de 1913)

sábado, 22 de maio de 2010

Vegas, a volta



A verdade está lá fora

Voltamos à Cidade dos Anjos à noite. Cruzando o Mojave, passamos próximo à Área 51, instalação militar de segurança máxima do Governo Americano, famosa pelos OVNIS e ETs que, dizem, existem ali. Enquanto discutíamos a veracidade do que acontecia lá dentro, o carro foi invadido por uma luz intensa, que transformou por um segundo o vidro da frente numa tela de luz:

"-Você viu aquilo, cara?"

"-Vi! Que p$&%@ foi aquela?"

Perplexos, gastamos uns bons minutos tentando descobrir o que havia acontecido. Não sei dizer o que atingiu o veículo, digo apenas que o nosso carro era o único na estrada e não havia uma única nuvem de chuva no céu.

Fim de jogo

Gostei de ver, do Flamingo ao Cesar's, os cassinos que funcionam 24h e oferecem todas as amenidades para atrair ao maior número de jogadores e sonhadores possível, e onde milhões e milhões são captados a cada hora. Ao final da viagem, saldo positivo para os cassinos e para mim.

sábado, 8 de maio de 2010

Vegas, a ida


Levado às Alturas

A oportunidade de conhecer Vegas veio quando um colega de quarto do Venice Beach Hotel, em Los Angeles, fez o convite: alugar um carro e ir à Las Vegas, dividindo os custos da viagem.

No dia seguinte, alugamos um carro e cruzamos o Mojave, de forma que chegamos à cidade no final da tarde, enquanto o rádio anunciava uma promoção nas diárias do Stratosphere, um dos grandes hotéis-cassino locais. O hotel leva esse nome devido a sua torre de 350m, a segunda maior do hemisfério ocidental. No topo, há um mirante cujo teto abriga duas atrações que fariam o Homem-Aranha sentir vertigem: o Big Shot, um assento que ejeta os participantes a alguns metros no ar e o X-scream, uma mini montanha-russa que circunda o topo.

Malas no quarto após o check-in, fomos ao mirante apreciar a vista. Impressionado com a estrutura e, confesso, meio temeroso, perguntei ao meu colega o que ele achava que segurava aquela coisa toda lá em cima.
"-Fé," ele disse.
Ser ateu naquela hora não me trouxe conforto algum.

Os seios da atendente

Na cidade há sempre shows diversos, cujos ingressos podem ser comprados em uma única guarita. De noite saímos em busca de um show do tipo "Viva Las Vegas," tradicional apresentação de algum personificador do Elvis. Aguardamos na fila de uma guarita e, quando chegou a nossa vez, antes que pudéssemos dizer qualquer coisa, a atendente disparou: "Vocês querem ver peitos, certo?" Queríamos somente ver algum imitador do Elvis! Pensei em pedir pelo imitador que tivesse os maiores seios, para não frustrar a atendente, mas daí fiquei quieto pois achei que ela não entenderia a piada.

Nem tudo o que reluz é ouro

Noutra noite desci ao saguão do hotel, repleto de máquinas caça-níqueis e mulheres belíssimas, aqui e ali, sempre acompanhadas de algum trouxa que naquela noite gastaria até o seu último centavo com elas. Bebida em mãos, sondei o ambiente e vi próximo a uma das máquinas uma senhorita que parecia procurar alguma coisa no chão. Me aproximei e ela, meio cambaleante e bêbada por completo, resmungou comigo alguma coisa sobre o quarter dollar que havia perdido. Meu colega havia saído para passar a noite na cidade, me deixando o quarto vazio. "-Deus existe!" pensei. "Uma mulher bêbada (!) e um quarto só para mim é um presente bom demais para ser verdade." Um minuto de conversa mais tarde ela me diz que precisa ir porque a namorada a está esperando, e mata as minhas esperanças na hora. Na minha experiência, quando algo parece bom demais para ser verdade, normalmente o é. Deus é muito sacana.

Azar no amor, sorte no jogo (ou quase isso)

Frustrado e sem amor, fui jogar. Cassinos foram feitos para isso. Escolhi uma máquina guiado pelo prêmio principal, uma reluzente Harley Davidson. Ponho uma moeda no slot, puxo a manivela e aguardo as frutas se alinharem na tela: um limão, dois limões, três limões... seguro o fôlego... um pêssego. O caça-níqueis trava e emite uma sirene enquanto uma lanterna irradia uma luz vermelha intermitente, como a dos carros de polícia. Todos ao meu redor observam e há tensão no ambiente. Uma funcionária do cassino se aproxima, destrava a máquina e me dá míseros $15 dólares. Mais um limão e eu teria voltado a Los Angeles numa moto.

Flamingo drinking from a cocktail glass,
I'm on the lounge with someone else's wife,
Enjoy the view from out the top of the mast.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Fio da Navalha


Numa madrugada despreocupada, ligo a TV e me deparo com um filme, cuja abertura anuncia: “O Fio da Navalha - Baseado na obra de Somerset Maugham.” Ouvi o nome do autor pela primeira vez de um professor contador de boas histórias, aprendidas aqui e ali, irlandês cosmopolita que era. A referência era boa, segui assistindo.

A personagem principal, Larry, interpretada por Bill Murray, foge do seu modo de vida burguês na América rumo à Europa e, posteriormente, à Índia, em busca da vivência e do conhecimento que, esperava, responderiam às suas questões existenciais e dariam mais sentido à sua vida. Na trajetória de abnegação e desprendimento da personagem encontrei as respostas para alguns questionamentos que à época eu mesmo fazia. Também me estimulou a pôr o pé na estrada. Larry, baseado em uma pessoa real, personificava o tipo do sujeito que eu teria gostado de conhecer, assim como o próprio ator Bill.

Anos depois, no Emerald Inn em Manhattan, um colega interrompe um gole de cerveja e discretamente aponta para trás de mim, onde vejo Bill jogando dardos, se divertindo com alguns amigos. Poderia tê-lo convidado para se juntar a nós, mas não o fiz. Me pareceu inoportuno.

Saí do bar sabendo que nunca mais o veria. Não que tenha lamentado a oportunidade perdida: já havia aprendido com Larry a aceitar as circunstâncias e a prosseguir sem arrependimentos.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O dedo de Adão


Recebi um E-mail no qual havia um link para uma página, na qual seu autor propunha, por meio de uma série de perguntas, traçar um perfil da personalidade do visitante e equipará-la ao perfil de algum super-herói. “Qual herói você seria?” Não fiz o teste, mas, se pudesse escolher, escolheria ser o herói com o super-poder mais bacana.

Ao se falar em super-poderes e perfil psicológico, penso logo em Jung, que não era um super-herói, mas acreditava ter um super-poder: a Sincronicidade. Mais do que causalidade, a Sincronicidade é uma espécie de sexto sentido que faz com que o indivíduo descubra determinados fatos antes de sua ocorrência. O fato do desejo intenso intervir na ocorrência dos fatos é outro aspecto do fenômeno: quando se quer muito algo, o algo acontece. Já tive um exemplo disso.

Certa vez, quis conhecer o presidente da companhia para a qual trabalhava: a chance de discutir a empresa de igual para igual com o chefe dos chefes. À época, fiz uma viagem de férias e, prestes a embarcar no vôo de volta a Brasília, tive a estranha sensação de que o encontro estava próximo.

“Vai sentar aqui?,” me perguntou o senhor que bloqueava o caminho para o meu assento. De todas as infindáveis combinações possíveis de dias, horários e lugares, ele estava ali onde eu estava, o senhor Ozires Silva, C.E.O da empresa, fundador da Embraer e futuro Ministro de Estado em época de crise aérea. Passei a próxima hora e meia ao lado do sujeito e não tive dúvidas: querer é poder.

Para Jung, quem quer que descubra os mecanismos da Sincronicidade terá “posto o dedo no umbigo do universo.” Se pudesse escolher um super-poder, seria esse: a Sincronicidade, a fim de traçar o rumo dos acontecimentos por mera vontade. Então, todos os dias, ao acordar, levantaria a mão e poria meu dedo ali, no umbigo do universo.

(Imagem: A Criação de Adão, de Michelangelo)

domingo, 21 de junho de 2009

Humor


Certa vez, há muitos anos, fui acordado de madrugada pela campainha. Abro a porta e vejo um amigo da família, bêbado de doer. Nada mais justo, afinal no dia anterior havia recebido a notícia de que sua esposa, filha e outros membros da família haviam morrido num acidente automobilístico. Tipo de incidente que deixa qualquer um louco ou suicida. Entendo que as pessoas sucumbam à dor.

Apesar do trauma e da penúria na qual vive hoje, é uma das pessoas mais bem-humoradas que conheço! Não sei o que o faz viver bem-humorado, seria bom descobrir e compartilhar com o mundo. Acho que nunca descobrirei a resposta: seja o que for, é dele, seu tesouro para guardar, daí não cabe a mim perguntar. Não serei eu a me apropriar da única coisa que lhe restou na vida.

domingo, 7 de junho de 2009

O autor da foto


Parado em frente à Centraal Station, carregando toda a indumentária de viajante, olho para o lado e me despeço da cidade enquanto um amigo ajeita a câmera que irá registrar o momento.

O conheci em Amsterdã, na rua, depois de sair de um albergue sem vagas -outro brasileiro em busca de um lugar para ficar. Malas em mãos, hotéis e hospedarias cheias, tivemos sorte ao encontrar uns alemães que nos indicaram um barco no cais, nossa única chance de um teto sobre a cabeça naquela noite.

Há uma história a ser contada em cada pessoa que se conhece e, uma vez estabelecidos para a noite, quis ouvir qual era a dele. Ele me disse que era de Rondônia e que, cansado de tudo, veio viver na Europa. Andarilho, já havia passado por vários países, viajando em ônibus ou trens, grande parte das vezes de forma clandestina. Até me contou uns truques que usava para burlar as alfândegas. Não perguntei o que fazia para conseguir dinheiro, mas tinha uma noção: deveria fazer o que fosse preciso. Para alguém que, como eu, tinha vinte e poucos anos, ele parecia já ter passado por muito nessa vida.

Aprendi muito naquela primeira viajem, interessantíssima tanto pelos museus visitados quanto pelas conversas com ilustres viajantes desconhecidos e brasileiros extraordinários, nos hotéis e nas ruas.

Tirada a foto, é hora de ir. Por mais extraordinárias que sejam as pessoas, despedir-se delas é surpreendentemente lugar-comum: com pesar, digo adeus e lhe desejo boa sorte. Depois, entro na estação, compro um bilhete e rumo ao próximo destino.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Oh, Data Bank!


"Praquê você precisa de um relógio assim?" Escutei a pergunta enquanto fuçava a lista de nomes em meu relógio. Numa época em que celulares com suas agendas telefônicas eram um luxo para poucos, os relógios Data Bank, que armazenavam de 50 a 100 números de telefone, eram bastantes úteis, especialmente naquelas horas em que você procurava gente bacana com quem passar o final de semana.

A pergunta da minha colega de faculdade, contudo, respondi de forma menos elaborada: "Pra ligar pra galera, quando eu estiver entediado." Imediatamente ela me pede o relógio, digita nele seu próprio número de telefone e me devolve dizendo: "Pra quando você estiver entediado."

O que aconteceu depois foi... Bem, o que aconteceu depois eu não conto para ninguém! Talvez aos amigos, em uma mesa de bar.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Aqui jazz

Enquanto as horas se arrastam na minha baia e me pergunto se há mais sobre a vida do que estar num cubículo, me vem à lembrança a imagem de uma pessoa de muito estilo, sempre elegante apesar do calço que usava a fim de compensar a baixa estatura. Festeiro e amante de belas mulheres, dentre as quais Marilyn Monroe, Jane Mansfield e Rita Hayworth, o bon vivant Jorginho Guinle foi o playboy por excelência, que gastou a fortuna herdada ao viver o estilo de vida dos ricos e famosos.

Próximo de sua morte, vivia de favores, pois havia torrado cada centavo ganho. Faleceu aos 88 anos e deixou como herança um rol de histórias invejáveis, inspiração para uma biografia intitulada -morram de inveja- Um Século de Boa Vida.

Volto para casa e, ainda refletindo sobre a vida de Guinle, coloco no tocador um disco de Jazz, seu gênero musical favorito, e celebro a noite já bem mais animado.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mr.Gorsky


Quando pisou a Lua, Neil Armstrong disse: “Good luck, Mr.Gorsky.” Surpresa na N.A.S.A e em todo o planeta, ninguém sabia o que aquilo significava.

Reza a lenda que, quando criança, Armstrong ouviu, enquanto brincava próximo à janela da casa de seu vizinho, o Sr.Gorsky, a esposa negar uma boquete ao marido: “Só farei isso no dia que aquele moleque do Armstrong pisar a Lua.”

A transcrição do áudio da Apollo 11 não revela a frase do astronauta e, ao que parece, toda essa história foi fabricada. Pouco me importa, contudo, a verdade nas histórias. Menos ainda se elas são divertidas como essa.