quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Fio da Navalha


Numa madrugada despreocupada, ligo a TV e me deparo com um filme, cuja abertura anuncia: “O Fio da Navalha - Baseado na obra de Somerset Maugham.” Ouvi o nome do autor pela primeira vez de um professor contador de boas histórias, aprendidas aqui e ali, irlandês cosmopolita que era. A referência era boa, segui assistindo.

A personagem principal, Larry, interpretada por Bill Murray, foge do seu modo de vida burguês na América rumo à Europa e, posteriormente, à Índia, em busca da vivência e do conhecimento que, esperava, responderiam às suas questões existenciais e dariam mais sentido à sua vida. Na trajetória de abnegação e desprendimento da personagem encontrei as respostas para alguns questionamentos que à época eu mesmo fazia. Também me estimulou a pôr o pé na estrada. Larry, baseado em uma pessoa real, personificava o tipo do sujeito que eu teria gostado de conhecer, assim como o próprio ator Bill.

Anos depois, no Emerald Inn em Manhattan, um colega interrompe um gole de cerveja e discretamente aponta para trás de mim, onde vejo Bill jogando dardos, se divertindo com alguns amigos. Poderia tê-lo convidado para se juntar a nós, mas não o fiz. Me pareceu inoportuno.

Saí do bar sabendo que nunca mais o veria. Não que tenha lamentado a oportunidade perdida: já havia aprendido com Larry a aceitar as circunstâncias e a prosseguir sem arrependimentos.