domingo, 21 de junho de 2009

Humor


Certa vez, há muitos anos, fui acordado de madrugada pela campainha. Abro a porta e vejo um amigo da família, bêbado de doer. Nada mais justo, afinal no dia anterior havia recebido a notícia de que sua esposa, filha e outros membros da família haviam morrido num acidente automobilístico. Tipo de incidente que deixa qualquer um louco ou suicida. Entendo que as pessoas sucumbam à dor.

Apesar do trauma e da penúria na qual vive hoje, é uma das pessoas mais bem-humoradas que conheço! Não sei o que o faz viver bem-humorado, seria bom descobrir e compartilhar com o mundo. Acho que nunca descobrirei a resposta: seja o que for, é dele, seu tesouro para guardar, daí não cabe a mim perguntar. Não serei eu a me apropriar da única coisa que lhe restou na vida.

domingo, 7 de junho de 2009

O autor da foto


Parado em frente à Centraal Station, carregando toda a indumentária de viajante, olho para o lado e me despeço da cidade enquanto um amigo ajeita a câmera que irá registrar o momento.

O conheci em Amsterdã, na rua, depois de sair de um albergue sem vagas -outro brasileiro em busca de um lugar para ficar. Malas em mãos, hotéis e hospedarias cheias, tivemos sorte ao encontrar uns alemães que nos indicaram um barco no cais, nossa única chance de um teto sobre a cabeça naquela noite.

Há uma história a ser contada em cada pessoa que se conhece e, uma vez estabelecidos para a noite, quis ouvir qual era a dele. Ele me disse que era de Rondônia e que, cansado de tudo, veio viver na Europa. Andarilho, já havia passado por vários países, viajando em ônibus ou trens, grande parte das vezes de forma clandestina. Até me contou uns truques que usava para burlar as alfândegas. Não perguntei o que fazia para conseguir dinheiro, mas tinha uma noção: deveria fazer o que fosse preciso. Para alguém que, como eu, tinha vinte e poucos anos, ele parecia já ter passado por muito nessa vida.

Aprendi muito naquela primeira viajem, interessantíssima tanto pelos museus visitados quanto pelas conversas com ilustres viajantes desconhecidos e brasileiros extraordinários, nos hotéis e nas ruas.

Tirada a foto, é hora de ir. Por mais extraordinárias que sejam as pessoas, despedir-se delas é surpreendentemente lugar-comum: com pesar, digo adeus e lhe desejo boa sorte. Depois, entro na estação, compro um bilhete e rumo ao próximo destino.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Oh, Data Bank!


"Praquê você precisa de um relógio assim?" Escutei a pergunta enquanto fuçava a lista de nomes em meu relógio. Numa época em que celulares com suas agendas telefônicas eram um luxo para poucos, os relógios Data Bank, que armazenavam de 50 a 100 números de telefone, eram bastantes úteis, especialmente naquelas horas em que você procurava gente bacana com quem passar o final de semana.

A pergunta da minha colega de faculdade, contudo, respondi de forma menos elaborada: "Pra ligar pra galera, quando eu estiver entediado." Imediatamente ela me pede o relógio, digita nele seu próprio número de telefone e me devolve dizendo: "Pra quando você estiver entediado."

O que aconteceu depois foi... Bem, o que aconteceu depois eu não conto para ninguém! Talvez aos amigos, em uma mesa de bar.